sexta-feira, 18 de maio de 2007

A ex-borboleta

Para Sardinha.



Vagarosamente, a lagarta escalava aquela parede branca como neve. Quando Edu a notou, ficou tomado por uma curiosidade quase científica e, como um biólogo realizando um documentário sobre a vida selvagem das lagartas, passou a observá-la com toda a paciência que Deus lhe deu.

Cada minuto parecia horas, e a lagarta não desistia daquele seu objetivo de vida: pisar onde nenhuma lagarta jamais pisou, o teto daquela sala. E, Edu também não desistia de observá-la. A cada movimento sinuoso da aventureira, ele vibrava. Isso acontece muito quando as pessoas não tem muito mais a fazer do que observar lagartas.

Depois de algumas horas de observação, a lagarta já tinha até nome. Klink. Uma breve homenagem ao Amir. Enquanto isso, ela subia subia subia subia...

Quando uma lagarta nasce, antes de se transformar em uma colorida e esvoaçante borboleta, ela se alimenta da casca de seu ovo, e passa a comer as folhas da planta onde se encontra. Nessa fase, a lagarta não faz outra coisa além de comer. À medida que cresce, a lagarta muda algumas vezes de pele. O período entre duas mudas é chamado instar. A lagarta deixa de se alimentar no último instar, esvazia o estômago, fixa-se e sofre a ultima muda, da qual surge a pupa ou a crisálida. Durante a fase de crisálida, ela é lentamente transformada em borboleta.

Quando chegou no cume da sala, depois de muitas horas sendo observada, a lagarta, com toda a sua velocidade já conhecida, passa a construir o seu casulo. Neste momento, o observador ficou radiante.

Já era tarde da noite, Edu estava cansado e resolveu dormir e deixar para observar mais na manhã seguinte. Amante de fotografias, foi para a cama com a idéia de fotografá-la e registrar a emocionante gestação de uma borboleta.

Dormiu como a muito não dormia.

Quando se levantou no dia seguinte, tomou seu café da manhã e se dirigiu à sala. Olhou para cima à procura do casulo e não viu nada. Virou-se para a empregada que varria o local naquele momento e perguntou:

- Adriana, você viu uma lagarta que estava por aqui?

- Oxe! Vi sim! Eu matei ela. Odeio esses bicho dentro de casa.

E esse foi o triste fim de uma ex-colorida e feliz borboleta. Edu se lamentou, e foi trabalhar como se nada tivesse acontecido.